domingo, 26 de janeiro de 2020

Mensagem de Eduardo Fauzi para a dissidência brasileira

Recentemente, tive a oportunidade de ter um diálogo virtual com o Sr. Eduardo Fauzi, perseguido por seu papel na ação direta revolucionária sem vítimas contra a produtora do Porta dos Fundos, programa que produziu documentário blasfemo para atormentar o Natal cristão. Estes foram os resultados.



  1. Embora seus motivos tenham restado bem explicados em pronunciamentos anteriores, gostaríamos de fazer uma pergunta a nível mais específico: quais foram suas inspirações, ideológicas e práticas, para a ação direta contra a produtora?

Guardados os devidos exageros e a natureza dos momentos históricos radicalmente distintos, e de fato ha um abismo que separa um episodio do outro, tanto em intenção como em gesto, não podemos deixar de memorar o ato heroico do célebre, e pra sempre lembrado, herói Guy Fawkes, no episódio revolucionário inglês conhecido como Conspiração da Pólvora. O cerne do evento é bastante paradigmático e merece uma necessária atenção. Diante de um governo injusto, opressor, que não respeita a vontade popular expressa na adoração a Deus da forma como seus ancestrais O adoravam, na impossibilidade de diálogo ou de ajuste, quando um governo é mau e chancela maldades, e não existe maldade maior que impedir o homem de ter acesso ao seu destino final, Deus, não se pode falar em excesso ou injustiça. Esse contexto justifica moralmente uma ação direta revolucionária. Toda violência é pequena diante desta finalidade última. 

O paradigma liberal propõe uma organização social agindo no direito positivo como se de fato Deus não existisse e a consequência é que Deus desaparece lentamente do ordenamento jurídico, do debate público, do dia a dia das pessoas, até que se torne uma lenda, tipo Papai Noel ou Saci-Pererê, como já é frequente nos países europeus. Um homem sem Deus é um homem incompleto, um pedaço. Nesse sentido, a estratégia de descredibilização da figura do Cristo simbólico está inserida num contexto mais amplo, o de Guerra Cultural. O sistema precisa de seres fracos, que não rivalizem com a sua autoridade, o novo Leviatã que agora nos aparece. Toda fonte de autoridade precisa ser descredibilizada, seja Deus, a Pátria, o pai e as famílias, igrejas, padres e pastores, todos os grupos naturais, tudo precisa ser reduzi do a nada para que o sistema, que ja cooptou o estado, seja a unica fonte de autoridade possível. O sistema nos quer indivíduos, sem raízes, sem famílias, sem certezas… Por isso ridicularizar as fontes alternativas de autoridade é imprescindível dentro desse contexto de Guerra Cultural, e isso precisa ser definitivamente impedido. 

Não posso deixar de citar também Santa Joana D'Arc e, mais ainda, o Aiatolá Khomeini, que é o modelo perfeito de intelectual sagrado que o integralismo almeja.

  1. Há muita especulação sobre a natureza da atribuição da ação direta à sua pessoa. Você esperava ter sua participação desvelada tão rapidamente, a fim de poder se pronunciar com maior amplitude sobre sua causa, ou foi tudo resultado do acaso?

Na Legião de São Miguel, do grande Codreanu, eles, como forma de demonstração de uma confiança irrestrita na mão de Deus, sempre deixavam algumas pistas não evidentes, para permitir que o espírito agisse de forma que, se fosse da vontade de Deus, eles fossem descobertos. Isso é uma forma de oração, um sacrifício religioso de confiança no Eterno, não uma confiança burguesa de que tudo dará certo no final, mas de que, o que quer que Deus tenha reservado para si, eu aceito e abraço, e mesmo sem entender ou aceitar, sigo confiando n'Ele. Não há como não ver a mão do Espírito agindo nesse caso. Quem tinha que ter sido identificado e precisava ser o foi. Os que não podiam ser ou que não precisavam ser seguem cobertos pelo manto do Espírito, e, por mais que a polícia tente achá-los, por mais que o sistema queira as suas cabeças, se não for da vontade de Deus, não serão jamais descobertos.


  1. Suas conexões familiares na Rússia foram divulgadas na mídia, de forma que sua escolha em ir para o país é bastante lógica. Contudo, sua declaração sobre pedido de asilo e uma foto sua com Alexander Dugin geraram rumores ulteriores sobre suas conexões com a Rússia. Poderia esclarecer melhor sua escolha de país?



Eu tenho um filho de quatro anos em Moscou. E natural que eu o veja umas três ou quatro vezes por ano, e, em especial, no periodo das festas de final de ano, o feriado russo que compreende o intervalo entre o Ano Novo e o Natal ortodoxo, comemorado em 7 de janeiro. Quando eu viajei não havia nenhuma noticia de prisão temporária, e portanto dizer que eu "fugi"não tem qualquer amparo na realidade. Só fui saber da minha prisão quando eu já estava beijando Misha, meu filho, na Rússia. 

Eu sou um pensador dissidente, que possuo diversas influências e sigo buscando cacos de luz e verdade onde quer que eu os encontre. Numa de minhas viagens a Moscou, ha talvez uns 3 ou 4 anos, eu tive o privilegio de almoçar com o Professor Dugin e trocar algumas ideias sobre a obra dele. O encontro pode ter durado umas quatro horas e me causou uma profunda impressão, altamente positiva, e me gerou reflexões intensas que seguem reverberando ate hoje. Desse evento eu pude salvar uma fotografia, que eu guardo com carinho, e que agora esta sendo divulgada nas redes sociais como se fosse atual. Depois desse dia nunca mais tive qualquer contato com ele nem com pessoas ligadas a ele e, apesar de discordâncias pontuais, é impossível não enxergar e reconhecer os enormes méritos que ele certamente possui na sua obra que merece ser lida e cuidadosamente estudada por todo dissidente.





Em principio minha volta esta marcada para o dia 30 de janeiro, e eu pretendo retornar e me apresentar às autoridades brasileiras. Inobstante, o sistema e cruel e a intensa máquina de destruição de reputações esta ligada e tratorizando a minha imagem e a minha honra. Lembremos, ninguém ficou machucado no episodio nem nenhum dano material foi feito. O grande crime que estão me imputando foi o da motivação. O sistema é uma divindade ciumenta e não admite qualquer contestação real, mas tao somente admite ser contestado de forma passiva e inócua, através dos seus próprios meios e nos seus próprios termos. O delito pelo qual eu estou sendo caçado não é o de jogar fogo num parede de vidro que foi apagado em exatos 12 segundos, sem dano ou ferimento, mas o de gerar reflexão através de um ato simbólico contra os dogmas basais do sistema… E isso não pode ser perdoado jamais.


  1. Há muitos rumores sobre suas ligações com grupos de diversas orientações políticas no Brasil. Foram confirmadas suas associações à Frente Integralista Brasileira, ao Partido Social Liberal e à Associação Cívica Cultural Arcy Lopes Estrella, enquanto outros rumores insinuaram ligações ao Movimento Black Bloc e à Nova Resistência. Poderia dissertar sobre sua posição nestas e quanto a estas organizações?



Eu participo de "movimentos"desde a década de 90. Todos sempre com o perfil dissidente. Já fui tefepista, monfortiano,1 tendo sido aluno direto do saudoso professor Orlando Fedeli por uns 4 anos ate pouco antes de sua morte, ja militei brevemente na cena skin e mais intensamente no MVBrasil que ajudei a fundar, nos heroicos eventos do ataque à Estátua da Liberdade no dia 2 de novembro de 1999 no Barra Shopping. Dediquei-me à militância estudantil por vários anos, e com ela acabei me envolvendo na defesa pela dignidade e direito de trabalho de trabalhadores de rua, como camelôs e mais especificamente guardadores de veículos, categoria lumpesina com a qual eu me identifico antes de tudo. Apos um período de dedicação exclusiva a essa categoria, retomei a militância me filiando à Frente Integralista Brasileira, já há uns dez anos, período que foi de intenso aprendizado e aprofundamento teórico, e no qual eu cheguei a posição de presidente estadual até ser recentemente exonerado. Inobstante, sigo me identificando como integralista, e mesmo não estando mais vinculado a nenhum movimento de cariz integralista nesse momento, eu me utilizo da doutrina como bússola ideológica e norte intelectual, um ferramental precioso que me auxilia na classificação e entendimento dos fenômenos políticos e sociais de nosso tempo. 

Nesse sentido, a ACCALE, não é um "movimento"politico, mas uma plataforma que promove encontros e debates sobre nacionalismo de Terceira Posição, pensadores e pensamentos na esfera da dissidência política. Eventualmente, eu pude participar de palestras na qualidade de palestrante e também de audiência, e os resultados foram sempre bastante proveitosos, bem como a convivência social com pessoas que tenham afinidade intelectual e moral parecidas sempre se mostra pertinente.



Minha afinidade, contato, simpatia ou relação com o movimento black bloc e com a militante Sininho é rigorosamente nenhuma. De fato, eu como militante de Terceira Posição não tenho como conviver no mesmo espaço que antifas degenerados e moralmente aleijados, que é o caso preciso dos black blocs no Rio de Janeiro. A bem da verdade, eu tenho alguma dificuldade de conviver com ateus e degenerados pós-modernos em geral, e evito os ambientes sociais em que eles se encontrem. Qualquer associação politica deles comigo não tem nem nunca teve qualquer possibilidade de ser real. Não fui preso nos protestos de 2013 senão pelo episodio da agressão ao então secretário municipal da pasta da ordem publica, e nesse momento a coordenadora e musa dos black blocs, a Sininho, gravou um vídeo em que manifestava apoio a minha luta pessoal contra um sistema opressor e em solidariedade a uma cadeia realmente injusta. Agradeço o apoio que ela me prestou, mas não me considero tributário em nada à pessoa dela e tenho fé de que se ela soubesse que eu já era integralista não teria me dado tal apoio nem essa declaração.


Sobre a NR, o trabalho desenvolvido, especialmente o blog Legio Victrix, bem como trazer, atualizar e traduzir pensadores dissidentes para o público brasileiro, é um trabalho de altíssima relevância e merece respeito intelectual. A envergadura intelectual dos militantes também é de peso, e ainda que haja pontos cruciais que me afastem da proposta teórica, como a insistência na atualidade da luta de classes como ferramenta de revolução, a insistência cega na superação da Terceira Teoria Política, o antimonarquismo ferrenho, uma base metafísica não perfeitamente definida, não inserir Jesus Cristo no debate político nacional e um certo antipentecostalismo popular, um lapso do entendimento de nossas manifestações culturais como reflexo da espiritualidade nacional, e principalmente uma certa aversão à miscigenação simbólica2 como fator definidor da identidade nacional, apesar disso tudo, não há como não identificar potestades intelectuais raciocinando o Brasil a partir dessa plataforma doutrinária. Nunca tive a oportunidade de participar de nenhuma das reuniões, mas, se eu recebesse um convite, iria de bom grado na qualidade de aluno ouvinte.   
  

  1. Qual conselho gostaria de dar para todos os dissidentes políticos do Brasil?



Há no integralismo o conceito que chamamos de homem integral. A primeira revolução é a revolução interior. Desenvolvimento intelectual, moral, emocional, físico e espiritual são etapas necessárias pra construção de um homem integral, ou outro nome que seja de caráter equivalente a esse conceito que é basilar. Fazer de si a revolução que se pretende exportar para o mundo. Corpos fortes, saudáveis, sem uso de álcool em excesso ou drogas psicoativas, mentes saudáveis, intelecto poderoso, fé em Deus e na sua justiça, destemor diante da morte… Moralmente nos tornemos invencíveis, sem mentiras, deslealdades, respeitando os mais velhos e ensinando aos mais novos… A revolução interior é um processo de negação do espirito burgues, é árduo, duro e doloroso, e não há qualquer garantia de vitória senão a certeza de nos apresentarmos diante de Deus com as mãos limpas e o coração contrito. Essa é a minha recomendação para essa geração.


Por Deus, pela Patria e pela Familia Brasileira, me despeco.
 

1. Refere-se, respectivamente, à Tradição, Família e Propriedade e à Associação Cultural Montfort.
2. Conceito de Câmara Cascudo, denotando o sincretismo entre simbolismos europeus e tropicais.

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